Tambores Curumins: encontro de ancestralidades

“Eu saí do Maranhão com 16 anos, mas o Maranhão nunca saiu de mim. Sempre esteve comigo, o tempo todo.” É assim que Ciany Castro recorda sua trajetória. Filha do Mestre Castro, nasceu e cresceu em São Luís, onde, ainda criança, vivenciou o Bumba meu Boi, o Tambor de Mina e outros universos da cultura popular maranhense. Foi em Manaus, porém, onde viveu por mais de três décadas, que realmente se conectou com a força o Tambor de Crioula, tradição afro-brasileira do Maranhão que se tornaria central em sua vida, tendo fundado em 2005, ao lado do pai, o Tambor de Crioula Punga Baré, um dos primeiros grupos a levar o Tambor de Crioula para a Amazônia.

Essa busca por cruzar fronteiras culturais ganhou novo fôlego no projeto Tambores Curumins, realizado recentemente na Aldeia Guarani Mbyá Tavaí, em Canelinha (SC). O projeto, apoiado pelo Edital Infância & Cultura da Usina da Imaginação, tinha como proposta apresentar às crianças da aldeia os toques, cantos e danças do Tambor de Crioula – mas acabou revelando também afinidades entre o tambor maranhense e a tradição guarani.

“Fomos recebidos com música, então acabamos fazendo uma junção dos nossos tambores”, conta Ciany. “Eles têm tambores, danças e toques diferentes dos nossos, mas que também são de origem ancestral.” Ela comenta ainda a semelhança no contato com a terra, já que ambas as culturas dançam descalças, mas destaca a conexão profunda dos guarani com a natureza. “Eles vivem em um outro ritmo, um outro tempo. Me senti suspensa no tempo”. A experiência, lembra, foi muito enriquecedora para ela também.
As crianças da comunidade se envolveram de imediato. Queriam experimentar os toques, vestir a saia, entrar na roda. Uma menina, Kika, ao ser perguntada sobre o que mais gostou, respondeu sem hesitar: o giro! Para Ciany, essa resposta foi simbólica e representa a potência da troca.


“O giro no Tambor de Crioula te conecta com você mesmo. É algo que te envolve e te mostra quem você é. Quando você entra na roda, você encontra não o outro, mas a si mesmo. E a partir desse encontro é que você tem a possibilidade de trocar com o outro”, explica Ciany, que também se reconheceu e se reconectou com a própria ancestralidade nesse giro.

A ideia agora é dar continuidade ao trabalho, levando os Tambores Curumins para escolas, comunidades e outras aldeias. O objetivo, segundo Ciany, não é apenas passar adiante a cultura do Tambor de Crioula, mas também reinventá-la e transformá-la. “A cultura popular não é – e nem deve ser – estática. Ela precisa estar em movimento”, comenta, ressaltando a importância de promover encontros e pontes entre diferentes culturas. Afinal, como explica: “O Tambor de Crioula não é uma roda fechada, é uma roda aberta, onde todos podem chegar e dançar.” E quem entra sempre deixa um pouco de si.

A Usina da Imaginação atua há vinte anos promovendo pesquisa, formação e produção cultural, e apoiando comunidades para valorizar seus conhecimentos e fortalecer suas identidades. Fique ligado para conhecer os outros projetos aprovados e desenvolvidos com o apoio do Edital Infância e Cultura!

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