No Quilombo Vidal Martins, localizado em Florianópolis, um grupo de crianças se tornou guardião de um tesouro da natureza: as abelhas nativas sem ferrão. Por meio de atividades lúdicas e formativas, as crianças aprenderam sobre a importância desses pequenos polinizadores para o meio ambiente e para a cultura quilombola, tornando-se multiplicadoras desse conhecimento.
“As abelhas são seres fundamentais para a vida e a diversidade. Trazer esse conhecimento para as crianças do quilombo significa reconectar com saberes ancestrais e reforçar a importância da preservação”, explica Stefania Hofmann Mohedano, especialista em educação ambiental e idealizadora do projeto, realizado por meio da organização Urbees Meliponicultura Urbana com o apoio do Edital Infância e Cultura, promovido pela Usina da Imaginação.
Vidal Martins é o único quilombo reconhecido dentro da cidade de Florianópolis e representa um território de resistência cultural e ambiental. Não por acaso, a comunidade é constantemente assediada pela especulação imobiliária, que ameaça sua permanência e os modos de vida tradicionais. “Os quilombolas historicamente preservam florestas e biomas, mesmo sem o reconhecimento formal. Trazer as abelhas para o território também fortalece o quilombo enquanto protetor do meio ambiente e como ponto focal de promoção e enriquecimento da biodiversidade”, explica Stefânia.
Para se tornarem guardiões das abelhas, as crianças participaram de oficinas que envolveram contos, brincadeiras e a própria construção das estruturas que abrigam as colmeias. O projeto também trouxe conhecimentos sobre meliponicultura, arte e ciência, permitindo que elas compreendessem como esses insetos contribuem para a flora local e para a produção de alimentos.
Liderança da juventude do Quilombo Vidal Martins, Izaias dos Santos foi monitor dos pequenos guardiões dentro do território. “As crianças foram perdendo o medo à medida que entenderam que as abelhas nativas não possuem ferrão”, contou ele. Segundo Izaias, as abelhas com ferrão, que são mais populares e conhecidas aqui no Brasil, são na verdade abelhas importadas.”O encantamento das crianças ao observar as abelhas de perto é emocionante. Elas passam a enxergar esses seres como parte essencial da vida ao redor e se tornam multiplicadoras dessa consciência”, destaca Stefania.
Sem as abelhas, a reprodução de diversas espécies vegetais seria comprometida, afetando diretamente a biodiversidade e a produção de alimentos. Elas são responsáveis pela polinização de grande parte das plantas que compõem a flora nativa e cultivada. Além disso, sua preservação contribui para o equilíbrio ambiental e para a segurança alimentar das comunidades.
Após se apropriarem dos novos conhecimentos, os pequenos guardiões tornaram-se anfitriões da comunidade, recebendo crianças de fora do quilombo que também querem ver e aprender sobre as abelhas nativas. “A visita de outras crianças do entorno, com escolas e universidades, que vêm conhecer as abelhas e o território, acaba contribuindo também para o reconhecimento e preservação do quilombo”, comentou Izaias.
“A cultura quilombola sempre esteve conectada à natureza, mas muitas vezes essa relação é invisibilizada. Quando mostramos às crianças que sua comunidade já é protetora da floresta e da vida, reforçamos um senso de pertencimento e valorizamos o conhecimento tradicional”, acrescentou Stefânia, que destaca o papel das comunidades quilombolas na proteção da biodiversidade.
O projeto Pequenos Guardiões das Abelhas Nativas do Quilombo Vidal Martins é uma das iniciativas contempladas pelo Edital Infância e Cultura, que apoia projetos voltados ao protagonismo infantil e à valorização da cultura local. Com financiamento da Usina da Imaginação, a iniciativa possibilitou que crianças vivenciassem na prática o cuidado com a essa biodiversidade, fortalecendo a identidade cultural da comunidade quilombola.
A Usina da Imaginação atua há vinte anos promovendo pesquisa, formação e produção cultural, mobilizando comunidades para valorizar seus conhecimentos e fortalecer suas identidades. Além disso, seus projetos influenciam a criação e aprimoramento de políticas públicas, por meio de campanhas e advocacy, ampliando a presença de agentes culturais e de crianças nos debates sociais.
Fique ligado para conhecer os outros projetos aprovados e desenvolvidos com o apoio do Edital Infância e Cultura!