O nascimento de uma criança está permeado de diferentes simbologias e rituais, elaborados por gerações e aprimorados na história e nos eventos de cada povo ou território. Esses momentos são quase sempre especiais e envolvem cuidados específicos, evitações, prescrições para acolher bem e dar sentido à nova vida que chega, e ao novo grupo que re-nasce com essa chegada.
Uma criança é constituída de corpo, de emoções e sentimentos, de ideias e conhecimento, de vínculos e relações interpessoais, da história de uma família, uma comunidade e um povo. Cada um desses aspectos remete a um vasto campo de experiências, dos quais a criança participa e transforma ativamente. E é por essas experiências que uma criança vai tornando-se pessoa, com uma identidade partilhada com o grupo.
Somos seres culturais, coletivos e por isso mesmo também somos natureza. Cuidar da criança não existe sem o cuidar e o relacionar com plantas, árvores, e toda espécie de seres que coabitam o mundo nos diferentes ambientes. Então essas práticas de cuidado envolvem quase sempre pássaros, plantas, e outros elementos como a água, o ar e a terra.
Desenvolvida na observação, experimentação e prática cotidiana de gerações de cuidadores, essa etno-ciência do desenvolvimento infantil e humano está carregada de saberes milenares de como educar e cuidar das crianças pequenas, garantindo nesse processo também a continuidade de cada cultura.
Essa riqueza cultural é ameaçada quando povos como indígenas e quilombolas enfrentam a escassez de recursos essenciais, como acesso à terra, alimentação, ambiente saudável e de qualidade. A ausência de políticas públicas que reconheçam como válidas suas práticas de cuidado também contribui para essa lacuna, que é agravada por disputas territoriais e pelo racismo estrutural.
Para valorizar a diversidade e unir forças no combate a esses desafios que surgiu o MIMUS: Múltiplas Infâncias, Múltiplos Saberes. Desenvolvido pela antropóloga Rita de Cácia Oenning da Silva e realizado
pela Usina da Imaginação desde 2021, o MIMUS surgiu como um espaço de trocas e engajamentos sobre conhecimentos e práticas de cuidado da primeira infância, e como uma forma de troca entre diferentes culturas. Esse é um espaço também para festejar esse momento tão incrível que é o da revolução do nascer.
Configurado primeiro como um evento online, o MIMUS – que já conta com 4 edições – ganha agora um endereço fixo com esse portal de conteúdos. Aqui poderemos seguir construindo, juntamente com mães, pais, cuidadores, pesquisadores, lideranças e organizações locais um acervo de filmes, pesquisas e artigos que valorizem, celebrem e ajudem a perpetuar os saberes que viabilizam a pluralidade de infâncias do Brasil; servindo como fonte de pesquisa e fomento para políticas públicas cada vez mais inclusivas.